SEQUESTRO DE CO2 NOS CAFEZAIS CRIA MOEDA VERDE E CAFÉ CARBONO NEUTRO EM MINAS GERAIS

 

O café entrou no Brasil colonial pelas artimanhas de um sargento namorador, que trouxe das Guianas as preciosas sementes contrabandeadas para as terras do Pará.

E aqui floresceu, virou o ouro verde, símbolo do país, fez fortunas e criou uma cultura social pelo “café à mesa”.

Sempre foi solução para a sempre combalida economia brasileira.

E agora pode ser solução novamente, com novos produtos e negócios provenientes da atividade cafeeira.

Nestes tempos de sérias preocupações pela emissão de gases de efeito estufa, os cafezais mineiros, os maiores do mundo, respiram fundo e entram no poderoso negócio dos créditos de carbono.

Descobrimos, nós mineiros, que o café é um produto limpo, uma agricultura que sequestra e estoca muito mais carbono do que emite (combustíveis para tratores e equipamentos e eletricidade) para a produção dos preciosos grãos.

O pé de café é uma árvore perene, tem vida longa. Estudos recentes provam que cada hectare plantado com 4 mil pés de café, a média nacional, sequestra (tira da atmosfera) e estoca em seus troncos 10,38 toneladas de CO2. Sim, 10 toneladas, imagine, em cada hectare. E sem contar os 10 por cento sobre o tamanho da propriedade das matas legais obrigatórias.

Minas Gerais, o maior produtor de café do mundo, tem cerca de 1.200.000 hectares plantados em 463 municípios com 4 bilhões e 800 milhões de árvores de café e sequestra a estupenda cifra de 12.456.000 toneladas de CO2.

É menos do que as plantas da floresta amazônica? Claro, são árvores mais baixas, de troncos mais finos, mas que produziram, na safra 2019/2020, 33,5 milhões de sacas somente em Minas. E geraram milhões de dólares de divisas.

O movimento para a nova revolução cafeeira está em monetizar os créditos de carbono das florestas de cafés do Estado, em “papel verde”. Está provado que a atividade cafeeira sequestra muito mais do que emite para produzir o café. Numa relação débito/crédito, estes créditos se transformam no papel verde, aliás já existente no mundo, mas atualmente pouco utilizados em países como Brasil, Índia e China por problemas variados.

Minas Gerais tem 130 mil produtores de café que geram uma cadeia de 3 milhões de empregos. Monetizados, estes “papéis verdes”, não confundir com o dólar, podem ser utilizados para compensação de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) de empresas como indústrias, comércio, cooperativas, como incentivos ou descontos. O mercado decide como utilizar.

E Minas Gerais sai na frente ao oferecer ao mundo o Café de Carbono Neutro, uma chancela de saúde, economia e publicitária que poucos produtos agrícolas podem oferecer, como a soja, por exemplo, uma planta rasteira que sequestra pouquíssimo CO2 e emite uma enormidade para produzir.

E este movimento se inicia em Minas porque temos uma lei estadual chamada Robin Hood que trata do ICMS Ecológico. Com o acréscimo de um ou dois artigos, as florestas de cafezais podem ser inseridas na lei e o ICMS beneficiar os municípios produtores de café.

O movimento de produtores e pessoal do mercado está se mexendo para debates com as federações de agricultores, deputados e prefeitos. Quem sabe algumas boas conversas virtuais em mesas de cafezinho e quitutes mineiros todos nós possamos nos entender?

Créditos Carbono podem ser usados nos cafezais de MG

 

O EFEITO BORBOLETA NA CAFEICULTURA

Eustaquio Augusto dos Santos, Jornalista e Cafeicultor *

(eustaquiosa@gmail.com)

O efeito borboleta é uma figura retórica que nos remete ao fato de que o bater de asas de uma borboleta tem repercussão no espaço e no tempo, aqui ou longe daqui.

O simples ato de um apressado bancário levantar e beber uma xicrinha de café no “Café Nice”, no centro de Belo Horizonte, tem efeitos sociais e econômicos na cafeicultura de Minas Gerais, o maior produtor de café do mundo.

No instante mesmo em que a Humanidade enfrenta uma crise sanitária sem precedentes e tenta com pouco sucesso diminuir a emissão de gases de efeito estufa, a cafeicultura, em ato reflexo, oferece importante contribuição à economia e ao meio ambiente.

Como sequestrar e estocar o poluente dióxido de oxigênio (CO2) nos 4 bilhões e 800 milhões de pés de café plantados em 1 milhão e 200 mil hectares no estado de Minas Gerais.

Também pode diminuir a quase zero a emissão do pernicioso óxido nitroso proveniente da adubação química e orgânica de seus cafezais.

E aproveitar 100 por cento do fruto de café ao utilizar a polpa e a casca para produzir um novo produto para a alimentação humana, uma riquíssima, valiosa e muito nutritiva farinha para produção de pães, bolos, doces e quitutes variados.

Uma única e enorme fazenda de café em São Paulo e Minas, em fins do século XIX, financiou a invenção dos aviões em Paris pelo mineiro Santos Dumont.

Agora, quem sabe, os nossos cafezais podem financiar com créditos carbono um estoque de 12.456.000 de toneladas de CO2 em nossas perenes plantas de café cultivadas em Minas Gerais.

Pode ser o bater de asas a ser replicado em mais um milhão de hectares plantados em outros estados brasileiros e tantos outros milhões estocados nos cafezais do restante do planeta.

Estudos acadêmicos realizados no município de São Sebastião do Paraíso, em fazenda de café da Empresa de Pesquisas Agropecuárias de Minas Gerais (EPAMIG), mostram que cada hectare com cerca de 4 mil plantas, a pleno sol, sequestra e estoca 10,38 toneladas de carbono.

O mercado de créditos carbono internacional paga entre 4 a 7 euros por tonelada de carbono sequestrado de nosso poluído ar. Apenas como exercício aritmético, imaginemos que estas 12,456 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) estocadas em Minas Gerais possam ser convertidas em euros, a preço de 5 euros por tonelada. Teremos 62.280.000 euros, ou 373.680.000 de reais (com o euro a R$6) referentes aos nossos 1.200.000 hectares cultivados em MG com a planta mais importante para a economia brasileira durante 300 anos e que nos oferece os preciosos grãos de café, a bebida mais consumida no mundo, depois da água.

Estes valores podem não ser expressivos, mas indicam ao mundo que o café, além de todos os benefícios sociais e econômicos, também oferece sua contribuição ao sequestrar e estocar gases de efeito estufa (GEE), e contribui para minorar o aquecimento global.

Ou seja, o café é uma planta ecológica, ao contrário das pastagens, que servem ao gado, um dos maiores poluidores do planeta.

Já podemos fazer companhia àquele apressado bancário do “Café Nice” e tomar nossa xícara de café sem remorsos. E melhor, acompanhado de um pãozinho com manteiga.

Pãozinho que em breve poderá estar sendo levado ao forno feito inteiramente de farinha da casca e polpa da fruta do café, atualmente desperdiçada em montanhas de matéria orgânica largadas ao sol, emitindo gás metano e com seu chorume infiltrando pelo solo e águas de Minas, do Brasil e do mundo.

Os americanos inventaram o processo que utiliza a casca do café despolpado para produzir farinha destinada ao consumo humano e utilizada em pães, bolos, doces, quitutes. Ela é igual a todas as farinhas, não tem gosto, mas se distingue de todas as outras pelo seu enorme aparato nutricional.

A Fazenda Paiol, em Três Corações, no Sul de Minas, associada à Epamig, já produz esta farinha em caráter experimental.

Este é um método inovador para o aproveitamento integral do fruto do café maduro: grãos, para a bebida, polpa e casca, para a farinha. Para cada saca de 60 kg de café produzido, consegue-se 40 Kg de farinha. E esta farinha já é vendida nos Estados Unidos a US$20 o Kg, R$100 o Kg se considerarmos o dólar a R$5.

O terceiro fator no qual a cafeicultura pode se apresentar mostrando seu comprometimento com o meio ambiente diz respeito aos fertilizantes que utiliza.

E um dos principais é o nitrogênio, que faz parte do importante grupo de fertilizantes NPK, nitrogênio, fosforo e potássio.

No cultivo do cafeeiro, a maior parte das emissões de gases de efeito estufa (GEE) provém da aplicação de adubos nitrogenados. O alto impacto relativo do uso de fertilizantes nitrogenados se deve, principalmente, à emissão de N2O, após reações do fertilizante no solo

O óxido nitroso (N2O) é um importante gás ativo no efeito estufa (GEE), por apresentar

elevado potencial de aquecimento global (PAG), cerca de 300 vezes superior ao dióxido de carbono (CO2), o que explica a importância da sua emissão pelos sistemas de produção agrícola.

Especificamente com relação aos fertilizantes minerais e orgânicos e a mineralização de nitrogênio dos resíduos culturais, o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) considera que 1% da quantidade de N aplicada é perdido na forma de N2O, embora a faixa de incerteza esteja entre 0,3% e 3% (IPCC, 2006).

Estudos recentes relataram que 84% das emissões anuais de N2O do solo ocorrem após a aplicação de fertilizante nitrogenado. A influência da adubação nitrogenada sobre os fluxos de N2O é mais pronunciada nas primeiras semanas após a aplicação do fertilizante.

Para atingir níveis ótimos de produtividade, a cultura do cafeeiro necessita da aplicação de grandes quantidades de fertilizantes nitrogenados; porém, esta prática acarreta elevadas emissões de N2O para a atmosfera.

Portanto, para conferir menor risco ambiental aos sistemas de produção, algumas medidas devem ser adotadas para mitigar as emissões de GEE (sobretudo N2O) na atmosfera, sem prejuízo das necessidades nutricionais e dos níveis de produtividade do cafeeiro.

Há algumas ações que podem diminuir esta emissão de nitrogênio para a atmosfera, como os tipos de adubo, a dose correta e sistemas agroflorestais.

O autor oferece estas sugestões ao meio cafeeiro, como forma de, quem sabe, sensibilizar políticos, autoridades e cafeicultores a tornarem efetivas estas medidas.

Todas as informações e dados constantes do presente artigo estão disponíveis na internet, aliás a principal fonte do autor.

*Escreveu o e-book COMER CAFÉ, disponível na amazon.com.br, foi chefe de redação do jornal “O Globo”, sucursal de Belo Horizonte, e repórter de “O Estado de S. Paulo”, sucursal do Rio de Janeiro.

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