O EFEITO BORBOLETA NA
CAFEICULTURA
Eustaquio Augusto dos
Santos, Jornalista e Cafeicultor *
(eustaquiosa@gmail.com)
O efeito
borboleta é uma figura retórica que nos remete ao fato de que o bater de asas
de uma borboleta tem repercussão no espaço e no tempo, aqui ou longe daqui.
O simples
ato de um apressado bancário levantar e beber uma xicrinha de café no “Café
Nice”, no centro de Belo Horizonte, tem efeitos sociais e econômicos na
cafeicultura de Minas Gerais, o maior produtor de café do mundo.
No instante mesmo
em que a Humanidade enfrenta uma crise sanitária sem precedentes e tenta com
pouco sucesso diminuir a emissão de gases de efeito estufa, a cafeicultura, em
ato reflexo, oferece importante contribuição à economia e ao meio ambiente.
Como sequestrar
e estocar o poluente dióxido de oxigênio (CO2) nos 4 bilhões e 800
milhões de pés de café plantados em 1 milhão e 200 mil hectares no estado de
Minas Gerais.
Também pode
diminuir a quase zero a emissão do pernicioso óxido nitroso proveniente da
adubação química e orgânica de seus cafezais.
E aproveitar
100 por cento do fruto de café ao utilizar a polpa e a casca para produzir um
novo produto para a alimentação humana, uma riquíssima, valiosa e muito
nutritiva farinha para produção de pães, bolos, doces e quitutes variados.
Uma única e
enorme fazenda de café em São Paulo e Minas, em fins do século XIX, financiou a
invenção dos aviões em Paris pelo mineiro Santos Dumont.
Agora, quem
sabe, os nossos cafezais podem financiar com créditos carbono um estoque de
12.456.000 de toneladas de CO2 em nossas perenes plantas de café cultivadas
em Minas Gerais.
Pode ser o
bater de asas a ser replicado em mais um milhão de hectares plantados em outros
estados brasileiros e tantos outros milhões estocados nos cafezais do restante
do planeta.
Estudos
acadêmicos realizados no município de São Sebastião do Paraíso, em fazenda de
café da Empresa de Pesquisas Agropecuárias de Minas Gerais (EPAMIG), mostram
que cada hectare com cerca de 4 mil plantas, a pleno sol, sequestra e estoca
10,38 toneladas de carbono.
O mercado de
créditos carbono internacional paga entre 4 a 7 euros por tonelada de carbono
sequestrado de nosso poluído ar. Apenas como exercício aritmético, imaginemos
que estas 12,456 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2)
estocadas em Minas Gerais possam ser convertidas em euros, a preço de 5 euros
por tonelada. Teremos 62.280.000 euros, ou 373.680.000 de reais (com o euro a
R$6) referentes aos nossos 1.200.000 hectares cultivados em MG com a planta
mais importante para a economia brasileira durante 300 anos e que nos oferece
os preciosos grãos de café, a bebida mais consumida no mundo, depois da água.
Estes
valores podem não ser expressivos, mas indicam ao mundo que o café, além de
todos os benefícios sociais e econômicos, também oferece sua contribuição ao
sequestrar e estocar gases de efeito estufa (GEE), e contribui para minorar o
aquecimento global.
Ou seja, o
café é uma planta ecológica, ao contrário das pastagens, que servem ao gado, um
dos maiores poluidores do planeta.
Já podemos
fazer companhia àquele apressado bancário do “Café Nice” e tomar nossa xícara
de café sem remorsos. E melhor, acompanhado de um pãozinho com manteiga.
Pãozinho que
em breve poderá estar sendo levado ao forno feito inteiramente de farinha da
casca e polpa da fruta do café, atualmente desperdiçada em montanhas de matéria
orgânica largadas ao sol, emitindo gás metano e com seu chorume infiltrando
pelo solo e águas de Minas, do Brasil e do mundo.
Os
americanos inventaram o processo que utiliza a casca do café despolpado para
produzir farinha destinada ao consumo humano e utilizada em pães, bolos, doces,
quitutes. Ela é igual a todas as farinhas, não tem gosto, mas se distingue de
todas as outras pelo seu enorme aparato nutricional.
A Fazenda
Paiol, em Três Corações, no Sul de Minas, associada à Epamig, já produz esta
farinha em caráter experimental.
Este é um
método inovador para o aproveitamento integral do fruto do café maduro: grãos,
para a bebida, polpa e casca, para a farinha. Para cada saca de 60 kg de café
produzido, consegue-se 40 Kg de farinha. E esta farinha já é vendida nos
Estados Unidos a US$20 o Kg, R$100 o Kg se considerarmos o dólar a R$5.
O terceiro
fator no qual a cafeicultura pode se apresentar mostrando seu comprometimento
com o meio ambiente diz respeito aos fertilizantes que utiliza.
E um dos
principais é o nitrogênio, que faz parte do importante grupo de fertilizantes
NPK, nitrogênio, fosforo e potássio.
No cultivo
do cafeeiro, a maior parte das emissões de gases de efeito estufa (GEE) provém
da aplicação de adubos nitrogenados. O alto impacto relativo do uso de
fertilizantes nitrogenados se deve, principalmente, à emissão de N2O,
após reações do fertilizante no solo
O óxido nitroso (N2O) é um importante gás
ativo no efeito estufa (GEE), por apresentar
elevado potencial de aquecimento global (PAG), cerca de
300 vezes superior ao dióxido de carbono (CO2), o que explica a
importância da sua emissão pelos sistemas de produção agrícola.
Especificamente
com relação aos fertilizantes minerais e orgânicos e a mineralização de nitrogênio
dos resíduos culturais, o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC)
considera que 1% da quantidade de N aplicada é perdido na forma de N2O,
embora a faixa de incerteza esteja entre 0,3% e 3% (IPCC, 2006).
Estudos
recentes relataram que 84% das emissões anuais de N2O do solo
ocorrem após a aplicação de fertilizante nitrogenado. A influência da adubação
nitrogenada sobre os fluxos de N2O é mais pronunciada nas primeiras
semanas após a aplicação do fertilizante.
Para atingir
níveis ótimos de produtividade, a cultura do cafeeiro necessita da aplicação de
grandes quantidades de fertilizantes nitrogenados; porém, esta prática acarreta
elevadas emissões de N2O para a atmosfera.
Portanto,
para conferir menor risco ambiental aos sistemas de produção, algumas medidas
devem ser adotadas para mitigar as emissões de GEE (sobretudo N2O) na
atmosfera, sem prejuízo das necessidades nutricionais e dos níveis de
produtividade do cafeeiro.
Há algumas
ações que podem diminuir esta emissão de nitrogênio para a atmosfera, como os
tipos de adubo, a dose correta e sistemas agroflorestais.
O autor
oferece estas sugestões ao meio cafeeiro, como forma de, quem sabe,
sensibilizar políticos, autoridades e cafeicultores a tornarem efetivas estas
medidas.
Todas as
informações e dados constantes do presente artigo estão disponíveis na
internet, aliás a principal fonte do autor.
*Escreveu o
e-book COMER CAFÉ, disponível na amazon.com.br, foi chefe de redação do jornal “O
Globo”, sucursal de Belo Horizonte, e repórter de “O Estado de S. Paulo”,
sucursal do Rio de Janeiro.